Debate Histórico no Nordeste do Brasil


Um debate histórico. A primeira coisa a ser dita sobre a iniciativa do debate promovido pela TV Jornal e o SBT Nordeste é que foi uma grande iniciativa. Nunca antes na história do Nordeste candidatos a presidência haviam se encontrado para debater os problemas específicos da região.
A proposta da regionalização da TV foi, assim, um golaço, com certeza um marco no evento transmitido por dez afiliadas do SBT na região, nesta segunda-feira.
A segunda coisa a ser dita é que o debate foi morno, muito morno, não por culpa das regras propostas e estabelecidas, mas por insuficiência de desempenho de seus próprios protagonistas.

O exemplo melhor acabado é o próprio tucano José Serra, que não conseguia concluir seus pensamentos em várias oportunidades, extrapolando o tempo das respostas. Não resta dúvida que é bem preparado, mas o ar professoral não ajuda no vídeo. É inacreditável sua falta de objetividade neste embate desta segunda.
De olho nos votos que precisa para tentar chegar ao segundo turno, apelou para o populismo, aparentemente deixando de lado o equilíbrio que sempre marcou o discurso dos tucanos. O candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, José Serra, propôs a concessão de 13º salário a beneficiários do programa Bolsa Família e um salário mínimo mais elevado aos trabalhadores.
Repetiu ainda as propostas de reajuste de 10% para aposentados e de salário mínimo de R$ 600. Segundo colocado nas pesquisas, teve que ouvir de Marina a crítica de que a ampliação do programa Bolsa Família ocorre por motivos eleitorais.

PLÍNIO - O candidato do PSOL Plínio de Arruda Sampaio manteve a linha franco atirador e abusou do tom jocoso para tentar chamar a atenção, havendo dúvidas se não ultrapassou o sinal. É bonito ver um homem sonhador, utópico, coerente, aos 80 e tantos anos. Pena que tamanha coerência não sirva ao mundo prático, como parece deixar patente a falta de votos. Sim, Plínio, o engraçadinho de plantão, é também um candidato que não pontua na maioria das pesquisas.
Despojado como de costume, Plínio acusou os rivais de andarem em más companhias: Citou os dilmistas Fernando Collor (PTB-AL), José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), o serrista Marco Maciel (DEM-PE) e o marineiro Zequinha Sarney (PV-MA). “Esses são todos coronéis e são responsáveis pelo atraso do Nordeste”, disse.
Numa tirada irônica, daquelas de quem joga para a plateia, aliás mal comportada na noite desta segunda-feira, diria até desrespeitosa, o socialista disse que o senador do DEM, Marco Maciel, é um dos coronéis responsáveis pelo atraso do Nordeste. Um evidente exagero, é claro.
O discurso anacrônico vai de críticas ao agronegócio com a transposição até uma insólita proposta de revisão da Lei de Responsabilidade Fiscal. Até o PT já abandonou esse discurso, para eleger-se e governar.
Em vários blocos do programa, Marina e o candidato do PSOL tentaram polarizar o debate. A presidenciável do PV foi chamada de ingênua e de “mais conservadora na questão econômica do que todos os outros candidatos”. O socialista ouviu a rival chamá-lo de “desinformado”.

MARINA - Marina defendeu ideias genéricas, como a ampliação do SUS, na área de saúde. A impressão geral é que ficou devendo, acoada por Plínio que foi.
O momento de maior expressividade parece ter sido a defesa da educação para todos, repetindo a platitude de que os filhos dos brasileiros precisam de mais oportunidades. A promessa veio a propósito de um questionamento sobre analfabetismo na Paraíba.
Marina disse que era um compromisso ético e pareceu bem convincente quando afirmou que uma pessoa que não tinha educação ouvia e entendia pela metade.


OPORTUNIDADE PERDIDA - Neste sentido, não é fácil concluir que todos os candidatos foram muito superficiais e perderam uma boa chance de se aprofundar em temas caros à população, como transporte e segurança. Todos tergiversaram demais e apresentaram propostas concretas de menos.
E se Dilma tivesse aparecido? Não há garantia de que tenha elaborado uma proposta que vá além do assistencialismo e do avanço do estatismo na economia.
A líder nas pesquisas de intenção de voto, Dilma Rousseff (PT), não esteve presente. É como se dissesse que não precisa de mais votos no Nordeste. Na verdade, Dilma evitou se expor em um ambiente não controlado, como as aparições públicas ao lado do chefe Lula.
Com sua ausência, mostrou que não respeita o Nordeste, onde tem a maioria dos seus votos.
Durante o debate, os presidenciáveis obviamente aproveitaram a situação e criticaram a ausência da rival. Serra disse ainda que, em uma reforma política que promoveria se eleito, estará incluída a obrigação de candidato comparecer a debates durante a campanha. Marina afirmou que a ausência de Dilma é "uma ingratidão" com a região que, proporcionalmente, mais votos dá à petista.

A petista informou há menos de uma semana que não conseguiu conciliar o debate com outros eventos da campanha previamente agendados. Durante a manhã, Dilma participou um evento político em São Gonçalo, no Rio de Janeiro. Sua agenda não tinha compromissos para a noite. Depois, quem faz a agenda é o candidato.

Os adversários reclamaram barbaridade e uma pesquisa do UOL indicou que o impacto das críticas não foi positivo. O antecedente pode ajudar a explicar porque Serra, Marina e Plínio fizeram críticas à ausência da petista, mas sem a mesma ênfase do outro debate.
Enfim, a cadeira que Dilma almeja não deixar vazia é outra.

Por: Pedro Coutinho

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